Tudo começou com um simpático convite de uma querida amiga para ir assistir a uma Sessão das Conversas Sérias, de Marta Gautier, no teatro Villaret, em Lisboa, há um ano e qualquer coisa atrás. E os primeiros 15 minutos, a escutar e perscrutar aquele monólogo ali sentada, a olhar para um palco despido, onde todo o cenário era unicamente composto por uma vulgar cadeira, uma mesa banal com um portátil a projetar texto numa tela branca e a Marta, foram o bastante para me “apaixonar”.
Na altura andava com a cabeça meia virada, o coração meio quebrado, sentia-me ligeiramente (bastante) angustiada com a vida e dei por mim a respirar, ouvir, sentir, apreender e transpirar alguém que se interrogava exatamente com as mesmas questões que constantemente se debatiam em privado comigo. Podiam ser os meus 30 (e mais qualquer coisinha… mas pouca), a segunda idade dos “porquês” depois dos 3 anos, mas agora com mais um zero; talvez fosse por sempre ter sido mental e inquiridora demais com os factos, com a história, com a vida, com as pessoas, circunstâncias, emoções, sentimentos, reflexões e por aí fora; talvez fosse apenas por ser aquilo que era e que sou… apenas eu, mas certo é, que o fósforo acendeu e a explosão deu-se ali desde o primeiro ao último instante.
Parecia que o meu sangue lhe corria no corpo. A Marta é uma criatura séria e intimista no seu âmago, apinhada de questões poéticas, introspetivas que carecem de uma resposta, da “tal” resposta, com a complexidade, análise e reflexão inerente a cada uma, mas tem inequivocamente a capacidade de expor o que é mais circunspecto e lancinante de uma forma tão ligeira, tão fácil e absolutamente divertida, como se afinal o intrincado fosse apenas o mais banal. Intimamente os (nossos) monstros estão lá para nos devorar, mas exteriorizamos os nossos medos proporcionando gargalhadas. O fairplay dela é ilimitado. E como é bom e saudável saber rir de nós próprios.
Depois de algumas Sessões das Conversas Sérias, não resisti em ir assistir no Coliseu (salvo erro em maio de 2015) ao espetáculo “Vamos lá perceber as Mulheres”. Ri até chorar. Ri até me doer todos os ossos das costelas e todos os músculos da barriga e da cara. Ri até ficar com a maquilhagem toda a escorrer-me na cara. Ri até não aguentar. E percebi que afinal o trivial das nossas vidas e relações são o melhor pedaço da diversão.
Dia 8 de junho (há uma semana atrás) a Marta estreou o espetáculo “Pessoas Estranhas” a que obviamente não pude faltar.
A Marta gosta de explorar o hilariante e o sarcástico que existe nas diversas relações entre os humanos, ou seja, nas relações entre pais e filhos; marido e mulher e até para cada indivíduo (no singular) naquilo QUE É, QUER SER, OU TENTA SER, face às formatações da sociedade e é DE-LI-CI-O-SO!
Incrível como descobriu uma fórmula perfeita de encher salas e pavilhões, para nos oferecer umas belas dores de barriga, explorando e dissertando sobre o mais simples da vida que são por exemplo, as nossas rotinas – correlacionando-as com aquilo que provavelmente será do mais complexo que há, que são as nossas relações pessoais e interpessoais.
Pessoas Estranhas… Todos nós somos!
Informações:
Villaret | Lisboa e Sá da Bandeira | Porto
Fnac, Worten e Ticketline Reservas – 1820 (24 horas)