Foram quatro dias intensos. Reencontro com um amigo que não via há 20 anos, seguido de outros reencontros, comemoração dos Santos Populares, muita agitação e bailaricos. Às vezes é preciso. Quebrar rotinas, deixarmo-nos ir… Viver intensamente o presente que está ali, sem necessidade de eufemismos a desencadearem-se na nossa mente, sem passados e sem futuros, simplesmente o presente. E só posso estar grata por isso.

Depois de 4 dias onde reinou a vontade imediata e não houve espaço para a avaliação mental habitual e residente que tanto me tortura, há  que retomar os hábitos saudáveis. Equilibrar o organismo. Restabelecer, chamar a longevidade a mim outra vez e o bem estar físico. Como subir ao cume da montanha e inspirar o ar mais puro. E lá do alto, contemplar ainda as emoções, os bons momentos e deixá-los fluir no espaço, até dispersarem em múltiplas partículas brilhantes, muito brilhantes…

Resolvi fazer beringela recheada. Podia ser vegetariana, de atum, mas como tinha carne de peru picada, foi essa a opção. A carne de peru é magra e liga muito bem com legumes.

Comecei por selecionar e preparar todos os ingredientes, como faço sempre. Cortar os legumes, neste caso escolhi pimento vermelho, courgete, tomate e cogumelos. Temperei a carne com alho, sementes de mostarda, tomilho, mistura de pimentas esmagadas no almofariz e uma pitada de flor de sal (ahah desta vez utilizei um pouco de sal, novidade por aqui. Mas foi mesmo, mesmo, só e apenas, uma pitada).

Pré aqueci o forno nos 180 graus. Lavei e cortei a beringela ao meio e cobri as metades com papel de alumínio para irem ao forno durante mais ou menos uns 30 minutos.

Este procedimento é indispensável se quiserem comer beringela assada ao invés de uma espécie de beringela, mas crua. Há uns anos atrás, sem muito ou nenhum conhecimento sobre “como preparar umas deliciosas beringelas recheadas” resolvi meter mãos à obra e convidei uns amigos para jantar. Fiz um maravilhoso recheio, a vontade era muita, mas a mestria era pouca. Como não as assei previamente, não só tive uma dificuldade extrema para as escavar, afim de as poder rechear, como foi também completamente impossível para todos comer a “rainha da noite”. Restou-nos o recheio, o vinho e a boa disposição. As beringelas estavam duras e cruas. Mas é a errar que se aprende, se procura melhorar e se tem histórias para contar.

Num tacho coloquei azeite, louro, dois cardamonos abertos e uma cebola picada para cozinhar o recheio enquanto as beringelas assavam.

Assim que a cebola começa ligeiramente a alourar, coloco a carne e volto a temperar, agora chega a vez das especiarias. Utilizei um pouco de noz moscada e coentros moídos. Só depois da carne estar bem cozinhada é que acrescento os legumes e refresco com um pouco de vinho branco e sumo de um limão.

Preparo sempre os cogumelos à parte. Os cogumelos por norma libertam muita água e por essa razão opto sempre por os cozinhar separadamente. Fritei-os numa frigideira com azeite e temperei apenas com pimenta Caiena.

Está quase tudo pronto. Retiro as beringelas do forno e com o auxílio de uma colher extraio o seu interior. Escavo-as bem, mas com algum cuidado para não as romper e aproveito os bocados que removi da beringela já assados. Pico-os e adiciono-os ao tacho da carne e legumes. Deixo só cozinhar tudo mais um pouco e apago para fazer a montagem final.

Recheio as beringelas com a carne e legumes, por cima coloco os cogumelos. Cubro com queijo. Poderia ser ralado, mas como tinha estas fatias resolvi aproveitá-las e decorei com caju ao natural. Por cima umas sementes pretas de sésamo e oregãos.

Voltei a colocá-las no forno só para gratinar.

Et voilá!

Empratar com manjericão picado por cima do queijo gratinado e servir com uma salada de alface, cenoura, couve roxa e azeitonas, temperada com azeite, vinagre balsâmico e um fio de mel.

Resta-me voltar a recordar num rio de emoções, algumas passagens destas mini ferias atípicas, enquanto saboreio e reequilibro o organismo com um jantar leve, saudável e nostálgico.